15/10/2010

Um grito de revolta cabe num poema !



O preço do feijão

não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
...a luz o telefone
a sonegação do leite
da carne
do açucar
do pão
...porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço.
O poema senhores,
não fede
nem cheira.

(Ferreira Gullar)

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Nascem os homens como deuses pobres:

Nus e de um ventre que desesperou

de os guardar

sagrados e secretos no seu lago.

Nascem disformes, sem nenhum afago

da raiva desabrida que os expulsa

e das mãos aterradas que os recebem.

Bebem

o ar do mundo aos gritos.

Olham sem ver, e são

surdos transitórios mitos

da nossa devoção.

(Miguel Torga)

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