Convidado para uma Coletânea de poesia em Torres Novas,
vou participar com um poema em construção -
assinado pelo autor meu
heterónimo !
PEREGRINAR
[Alfeu Aurora ]
Ter um eu,
do tamanho do mundo, com dois mil anos, cinco mil anos, quinze mil anos.
Desesperarmos.
Amarrotar os
dias, num ardor, devaneios, recrear fantasias e desprezar os meios
Imposição ao
outro que contigo caminha, defraudando a bandeira duma causa mesquinha,
na tramoia
do credo se tornou medonha e desliga a energia que te deixa enfadonha.
Falaram-te
de amor, felicidade um dia. Doçuras no sabor num corpo se vestia.
Num
despertar amargo a aurora se fazia !
Tinhas
cantares à volta e chilreios de luz. Uma auréola cálida que sempre te seduz …
Foste
andarilho acérrimo, lavrador na seara, colhido na vindima quando o Outono
chegava.
Uma saca de
pardais num ninho de cegonhas vias entre taipais, as delícias risonhas.
Despertaste
pro sexo no toque do teu corpo e tiveste a ousadia de acordar um morto!
Ao veres um
gavião sentiste-te a voar…Apenas ilusão foi só um penetrar!
Uns êxtases
queridos, um ardor, um calor flagraram nova vida…
Cantaste o
que não tinhas, choraste o que caiu num rio te banhaste e a corrente sorriu.
Surgiu-se
uma cascata no seu rumorejar, voando uma andorinha numa mensagem minha
Criaste um caminhar!
Juntaste ao
prado aberto a árvore da fama, pois ai plantaste a ilusão duma cama, p´ra no
feno espojar apaixonados seres em mistura de géneros fruírem de prazeres !
Súbita consciência, um balanço antecipado, chamaram-lhe
poeta e ficou deslumbrado.
Foi declamador em novo, também comerciante, engenhoso no
trato, para enganar feirante, dessa
banha d’ cobra que tudo cura e salva perante o peso enorme de se ser
importante…
A ágora, adorava…armava o saltimbanco surpresas e esperanças
recompensadas entre tanto,
Ser grito
por palavra em verdade assumida.
Audácia com
sarcasmo, gritar força vivida, usar de entusiasmo.
Na
juventude, quando muitos tinham vergonha ... mas ficávam pela vergonha,
dedilhando guitarras e gemendo fados ! ! ! Alguns fizemos Primavera, um dia
lindo.
Os pais e os avós despeitados da nossa ousadia,
viraram a casaca sorrindo...
Depois,
vieram filhos e enteados cantaram e iludiram-se por uns euros trocados.
Na sombra, a
bom recato, uma hidra crescia e assim, foi sequestrando a anterior ousadia.
Ser é
acreditar é descobrir, sonhar e inventar o direito ao prazer respeito ao
direito à sexualidade, e ao direito ao lazer!
Há sonhos
que morrem na alvorada do dia, outros, num arrojo, contrariam a caminhada mais
sombria!
O acontecimento
morre sempre no momento, ainda bem que assim é ! Nem sempre saberia com quem
tomar café!
- Um dia
ouviu-se um cavalheiro que fazia sorrir, o homem dizia que tinha gostos muito
simples mas, não era culpa dele que os gostos simples dele custassem muito caro.
Vestia de gravata, tinha um bom carro.
Se a coisa não der jeito é fazer nas histórias a barrela a preceito
apagando as memórias!
( continua )